Educação Presente para o Futuro: precisamos conversar hoje pensando no amanhã

Recentemente assisti a um documentário interessante que discute a educação sob o ponto de vista de diversos atores, especialmente dos estudantes. Cada jovem apresentado tem certa representatividade em temas específicos e direciona a conversa sobre o futuro da educação a partir de sua própria perspectiva.

No filme, diversos assuntos são abordados, tais como educação climática, educação autodirigida, educação inclusiva, pensamento computacional e gamificação. Além destes, destaca-se o uso das tecnologias na educação – sugerindo mudanças no formato tradicional de ensino – e das metodologias ativas, como a Sala de Aula Invertida.

Até aqui tudo bem, tudo bonito. Entretanto, duas coisas me chamaram a atenção. A primeira foi a narrativa construída durante as entrevistas, que é focada na desconstrução da escola tradicional por meio da aplicação de metodologias educativas e tecnologias digitais. Apenas isso, nada mais. É bem verdade que temas emergentes surgem na conversa, mas ainda sim pautados apenas na modificação do currículo educacional e, mesmo assim, são apresentados de forma isolada entre si. Contudo, sinto que uma proposta de reformulação da educação formal precisaria passar por reflexões mais profundas, uma desconstrução estrutural e total.

É a partir deste sentimento que surge a segunda observação. No final do filme percebi que não ocorreram discussões sobre a educação científica. A educação científica, por definição de Holbrook e Rannikmae (2007), pode ser percebida como a capacidade do indivíduo em dominar três dimensões:

  • 1) a dimensão pessoal, que representa o caráter, as habilidades de comunicação, a atitude etc.;
  • 2) a dimensão social, que representa os valores sociais, a aprendizagem cooperativa e a tomada de decisão sociocientífica; e
  • 3) a dimensão da natureza científica, que representa as habilidades de investigação e criticidade.

Considerando esta definição, certamente discussões sobre mudanças na educação formal deveriam considerar a educação científica como base para uma reconstrução total. Na minha humilde opinião, uma educação para o futuro deveria ser construída numa fundação bem sólida, de forma a sobreviver por longas gerações, favorecendo uma diminuição da desigualdade entre as pessoas.

Porém, enquanto assistia ao documentário me veio à mente o episódio 414 do podcast Naruhodo! (clique aqui para ouvir), onde o co-host Altay de Souza diz que a educação científica não é aplicada de verdade. Até fala-se sobre ela em eventos e tenta-se executar algumas ações pontuais (alguns até dizem que a aplicam na íntegra), mas a verdade nua e crua é que a escola ainda é moldada apenas para formar trabalhadores (infelizmente). Ninguém é formado para se tornar um cidadão ou uma cidadã capaz de refletir sobre si e o mundo ao seu redor de forma crítica, buscando solucionar questões e estar menos errado(a) sobre as coisas. Nós apenas estamos sendo preparados(as) para ocupar cargos e executar tarefas em troca de um salário.

Mas veja bem, jovem leitor(a) empolgado(a)! Não estou dizendo que você não precisa trabalhar ou ganhar um salário. Pelo contrário, precisa sim se quiser sobreviver neste mundo (huashuahsuha…). Apenas estou destacando o fato de que você não é orientado a se preparar para as situações da vida na educação formal. Talvez aí esteja um dos motivos pelos quais muitas pessoas têm dificuldades de lidar com situações corriqueiras e “se embananam” nas próprias decisões tomadas. Também não quero dizer que o documentário seja ruim ou que não tenha seu valor. Acho que o filme poderia ser uma boa ferramenta para embasar discussões sobre currículo educativo e a prática docente que tanto precisamos aprimorar. Novamente, apenas estou pontuando como jogamos luz exaustivamente a certos temas enquanto ignoramos outros igualmente relevantes. É óbvio – pelo menos para mim – que para avançarmos como sociedade precisamos de uma educação de qualidade. E para alcançar uma educação de qualidade, a base científica apresentada por Holbrook e Rannikmae (2007) deveria estar presente em todas as discussões.

Para finalizar essa pequena reflexão pessoal, posso afirmar que fiquei com a impressão de que discutir a educação é uma tarefa bem complicada, pois cada pessoa tem uma visão muito particular do que ela é e de como deveria acontecer. A questão passa muito pelo elemento humano. Muitas vezes, a falta de compreensão sobre a importância e o valor da educação, além do que realmente significa estudar, impede nosso desenvolvimento como agentes ativos no mundo. É um trabalho árduo, mas necessário, para transformar a educação de forma significativa e duradoura.

Obrigado pela leitura e bons estudos!